Hulli e Marciele

Hulliane e

Marciele

A imagem mostra duas mulheres negras sentadas próximas uma da outra, em um ambiente ao ar livre com plantas verdes ao fundo. Elas estão de frente uma para a outra, com as testas encostadas. A mulher à esquerda tem tranças loiras e está usando uma camiseta clara. A mulher à direita tem tranças escuras com detalhes metálicos e está usando uma camiseta marrom. Ambas estão com as mãos no rosto uma da outra, em um gesto carinhoso. A cena transmite uma sensação de afeto e alegria.
A imagem mostra duas mulheres sentadas em um banco de concreto em um ambiente externo e com jardim ao fundo. Elas estão de mãos dadas e olhando para a frente. A mulher à esquerda está usando uma camiseta verde clara e shorts verde-oliva, com tênis preto. Ela tem tranças longas e loiras. A mulher à direita está vestindo uma blusa bege de manga curta e calças pretas, com tênis bege. Ela também tem tranças, mas de cor escura. Atrás delas, há uma parede de cor clara com uma janela grande e algumas plantas ao redor, incluindo uma palmeira à esquerda e arbustos verdes. O ambiente parece ser iluminado pela luz do sol.
A imagem em preto e branco mostra duas mãos repousando sobre longas tranças de cabelo, em torno de um abraço. As tranças são grossas e bem definidas, caindo sobre as costas de uma pessoa. As mãos parecem estar segurando ou tocando suavemente as tranças. A pele das mãos é negra, e uma das mãos tem um anel fino no dedo anelar. A luz na imagem cria sombras suaves, destacando a textura das tranças e a pele das mãos.
A imagem mostra duas mulheres negras se beijando. A mulher à esquerda tem tranças longas e loiras, com um corte lateral que exibe um desenho de coração raspado no cabelo. A pessoa à direita tem tranças nagô longas e escuras, adornadas com pequenos anéis metálicos, e está usando brincos de argola. Elas estão em um ambiente ao ar livre, com vegetação desfocada ao fundo.
A imagem mostra duas mulheres negras se abraçando. A mulher à esquerda tem tranças loiras e está usando uma camiseta bege. A mulher à direita tem tranças pretas com alguns acessórios prateados e está usando brincos pequenos. O fundo está desfocado, mas parece ser um ambiente ao ar livre com árvores. A cena transmite uma sensação de carinho e amor.
A imagem mostra duas mulheres negras em um ambiente ao ar livre. A mulher em primeiro plano está de perfil, olhando para o lado. Ela usa tranças grossas no cabelo, que estão decoradas com pequenos anéis metálicos. Ela também está usando brincos de argola e tem dois piercings na orelha. A mulher ao fundo, que está parcialmente desfocada em segundo plano, também usa tranças, mas de cor mais clara. Ela está sorrindo e olha para a mulher em primeiro plano. A luz do sol ilumina ambas, destacando seus rostos e cabelos.

[Hulli] Eu me chamo Hulliane, mas todo mundo me chama de Hulli. Eu tenho 30 anos. Sou formada em psicologia. Trabalho na área organizacional da psicologia. Nascida e crescida no Rio de Janeiro. Moro na zona norte, em Coelho Neto, bairro do subúrbio. Eu gosto muito de arte, teatro, cinema. Já fiz teatro por um tempo. Eu brinco que o meu primeiro personagem foi uma galinha. Depois de ter feito um pintinho, lá na minha infância… (risos)

Marciele
Eu me chamo Marciele. Algumas pessoas me chamam de Marci. Eu tenho 35 anos, sou nascida e criada no Rio de Janeiro. Moro na zona norte, no bairro de Cordovil. Atuo no telemarketing, como supervisora de equipe. Na minha formação, por enquanto eu estou com o RH, mas pretendo, futuramente, seguir o que eu gosto de fazer, que é a área de produção. Eu vou buscar voltar com o meu curso de publicidade. 

Como vocês se conheceram?

Hulliane
Ela trabalha como supervisora de equipe. Eu comecei lá, como operadora de atendimento, em uma equipe diferente da dela, e depois a gente se conheceu. Eu fui pra equipe dela e foi basicamente isso. A gente se conheceu na empresa, trabalhando juntas.

Marciele
Eu encontrei com ela no corredor. No bebedouro, na verdade, né? Já tinha visto, antes, que ela tava em treinamento, já tinha visto ela pelos corredores. Aí, eu tomei a iniciativa de falar com ela. A gente tava no bebedouro uma do lado da outra, e eu fui dar boas vindas. (risos) Eu olhei pra ela e falei “E aí, tudo bem, boas vindas, não sei o quê…” E ela, assim… Eu senti que foi um corte. Mais ou menos. Ela respondeu por alto e tal. Mas isso ficou gravado. E aí eu fiquei implicando com ela em relação a isso.

Hulliane
Foi engraçado, porque eu ainda não era da equipe dela e uma amiga já era. Meu supervisor tava me perguntando, fazendo muitas perguntas e tal, porque era par dela. Achei estranho… mas passou. E aí, depois, minha amiga minha “cara, a Marcela tá te olhando muito”. E eu: “é?”. Eu não tinha me ligado. Aí foi desenrolando, né, a nossa história, a partir disso.

E agora vocês não trabalham mais juntas?

Hulliane
Não. Eu fiquei lá de 2018 até 2020. Eu me formei em psicologia em 2018, só que eu sempre quis atuar na área organizacional. Então, na minha cabeça, não fazia sentido eu ir pra clínica se era a organização que eu queria. Eu entrei nessa empresa, porque eu achava que conseguiria crescer pra área de treinamento muito fácil, que é o que eu gosto e o que eu faço hoje. E aí, naquela época, ela me deu uma provocada porque não tinha como eu me desenvolver lá dentro, as vagas já tavam fechadas. Eles tavam cogitando eu ir pra uma função de liderança e eu não queria. E ela falou, “cara, o que que tá faltando? Tu tem a tua formação, tu já tá um passo na direção disso. Se você viu que você tem potencial pra crescer aqui dentro, tem potencial pra crescer onde você quiser. E por que não?”. Eu concordei. Aí, comecei a olhar para o mercado e surgiu a oportunidade de eu ir para uma empresa, que é a Rede Hospital Casa. Eu comecei a trabalhar ali, na minha área, na área de RH, e aí dali foi só pra frente.

Hoje vocês tão fazendo 5 anos de namoro, é muita coisa. Como foi essa trajetória?
Como vocês vêem esses 5 anos que passaram?

Marciele
Quer falar?

Hulliane
Cara, embora a gente seja muito diferente; eu sou mais extrovertida, ela mais introvertida e tal, existem muitos pontos em comum. 5 anos não é fácil de sustentar uma relação. Ela tem algumas questões que a gente sempre precisou conversar e vice-versa, né? Mas tudo muito pautado no respeito, no carinho. A gente teve muitos momentos de ‘primeira vez’. Fazer uma trilha juntas, cozinhar juntas. E eu acho que isso faz com que a relação se sustente, né? Sair um pouquinho da rotina.

Marciele
Pra mim, no meu ponto de vista, foram anos de muitas descobertas. Eu descobri muita coisa que eu não fazia antes e acabei descobrindo que eu gostava de fazer, junto com ela. Foram muitas descobertas pra mim. Eu me considero uma pessoa adaptável. Eu consigo me adaptar com mais facilidade a certas situações e costumes, e eu acho que isso também é algo que marca bastante na relação.

Hulliane
Sim, tipo, falando de signo, né? Eu sou Ariana. Então, eu tenho uma personalidade difícil e ela é libriana, tipo assim, super de boa, embora o ascendente seja Áries, né, não? (risos) Aí bate de frente… Mas é muito legal, porque desde o início, ela sempre me incentivou muito e vice-versa. Vou citar um exemplo disso. Ela hoje faz a graduação dela pela empresa. E foi muito interessante o quanto a gente se incentivou nesse lugar. Se a gente quer alçar vôos mais altos, casar e construir nossa casa, deixar herança pros filhos…quem sabe, né? (os filhos) É algo que a gente ainda discute. (risos) Faz parte. A gente precisa seguir uma carreira. Eu saí, e ela aproveitou a oportunidade que ela teve na empresa para se graduar. É muito incentivo que a gente dá uma pra outra.

Julia
Amor é ação, né? É parceria. Então, essas histórias já exemplificam tudo.

Hulliane
Sim, porque seria muito mais cômodo pra gente, falando de relação, estar ali perto, no mesmo local, se vendo todo dia, trabalhando juntas. Mas é isso: é se desafiar, é cutucar, sair um pouquinho da zona de conforto.

O que vocês acham que é específico, especial de um amor entre duas mulheres?

Hulliane
Eu acho que, primeiro, a coragem de viver em um mundo tão louco, onde as pessoas são tão egoístas, pensam em si. O quanto isso atinge… Não importa o quanto o outro sente, o quanto o outro merece a liberdade de viver um amor. Então, acho que a coragem de ser verdadeiramente quem você é.

Marciele
Sim, eu acho que a palavra cuidado também representa muito. Acho que a mulher tem um cuidado diferente, dedicação. É algo que muda completamente.

E no caso, tem mais uma camada, de vocês serem mulheres negras… Vocês têm essa vivência em comum.

Hulliane
Tem toda uma questão de empoderamento. Eu costumo dizer que foi arrancada de nós, negras, e dos nossos antepassados, parte da nossa história. Então, a gente viver a nossa história e contar a nossa história a partir da nossa perspectiva é algo muito especial, né? Algo muito importante, sim. E poder ser referência para outras meninas que têm medo de se assumirem, têm medo de ser quem são. 


Karol
Coisa que a gente não tinha, né…

Como é a relação de vocês com a família de cada uma? Como é o relacionamento? Como foi contar?

Hulliane
Tu quer começar?

Marciele
Não, pode começar você. (risos)

Hulliane
Em 2019, quando a gente se conheceu, foi muito especial, porque a minha cunhada tava grávida da minha segunda sobrinha, a Liz. E quando tem uma pessoa grávida na família, tudo muda, né? Os olhares ficam mais cuidadosos… Tem todo um cuidado ali. E eu tava saindo muito, ficando muito tempo nessa praça, né? (risos) Tava um pouco mais distante. Um dia a minha cunhada falou: “Cara, tu tá com um sorriso diferente, tu tá com alguém com certeza. E quando que tu vai contar pra gente?” E eu já vinha trabalhando lá em casa, porque meus pais são evangélicos, então, é toda uma questão de preconceito que se carrega, a gente sabe. Mas, a nossa convivência sempre foi pautada no respeito mútuo. Não só de filha com os pais. E minha cunhada falando e me provocando na frente deles. E aí eu falei: “eu tô com uma pessoa, eu tô namorando. Só que ela ainda não sabe. (risos) Mas eu já tô namorando. Eu me considero namorada dela.” E aí ela falou “eu quero ver a foto.” Eu mostrei a foto e aguardei a reação dos meus pais. Eu falei da coragem, né? Naquele momento, eu já tava com muita coragem de sair de casa, se necessário. Fazer o que eu tivesse que fazer, mesmo sem dinheiro. O amor move nesse lugar.  Aí eu pensei: “e agora, né?” Vou esperar pra ver o que vai acontecer.  Eles falaram: “Ah, legal, parabéns…” A minha cunhada olhou e falou: “então, vamos marcar um almoço no domingo!” Aí marcamos o almoço no domingo. Foi algo muito específico, porque ela foi almoçar lá em casa, conheceu toda a minha família. Depois a gente foi pro aniversário de uma amiga, e, depois, ela já dormiu lá em casa! Como eu fui trabalhando isso aos poucos, naquele momento, eu acho que eles ficaram em paz de saber que eu tava bem, que eu tava feliz, que eu tava com meu coração preenchido.

Eles já sabiam que você era sapatão?

Hulliane
Sim, eles já sabiam, porque eu vinha batendo muito nessa tecla. Teve uma novela, que tinha um homem trans. Eu não vou lembrar o nome do personagem.

Marciele
É a Ivana, não é? Ela transiciona no final da novela, e se torna Ivan (personagem de Carol Duarte em Força do Querer)

Hulliane
Sim, mas tem o Tarso(Brant), também, na novela. Meus pais sempre perguntavam como era esse processo. Eu explicava pra eles, que a pessoa não se identifica no corpo dela… Falando de uma forma mais lúdica pra eles entenderem. E aí, eles foram desconstruindo muitas coisas a partir das conversas que a gente tinha. Então, eles entenderam que tava tudo bem. Que o importante, naquele momento, era eu estar feliz, estar bem, com uma pessoa legal.

E a sua cunhada teve um papel importante? De quebrar o gelo?

Hulliane
Total! E no momento em que eles estavam ali, sensibilizados, felizes com a gestação, todo mundo envolvido no amor. E aí a gente falou de amor ali, também. Em outro cenário.

E você já teve outras namoradas?

Hulliane
Eu já tive um outro relacionamento, mas assim, tudo muito escondido, sabe? Tinham algumas questões de aceitação na minha família. Era uma pessoa mais nova que eu, aí tinha uma questão, também, de eu saber lidar com isso. A Marciele é a minha segunda namorada. Mas é a primeira assumida, de fato.

Marciele

Falando de mim, com relação à descoberta da família, na verdade, quem descobriu através de uma fofoca, digamos assim, foi meu irmão. Nós não moramos mais juntos. Ele é casado, mora em outro lugar. Quando eu comecei o relacionamento com a Hulli, ele me procurou pedindo indicações de emprego pra esposa dele, na época. A Hulli já estava trabalhando com RH em outra empresa e ela ficava, direto, divulgando vagas e tudo mais. Aí, eu pedi ajuda dela com relação a isso. E compartilhei com ela o currículo da minha cunhada. A minha cunhada participou do processo de seleção no Casa Hospital, e foi aprovada. Até então…a gente achou que ia ficar só ali. Mas com relação a redes sociais, né? Essa minha cunhada conseguiu achar a rede social da Hulli, porque foi ela que entrevistou a menina. E na rede social dela, era tudo exposto. A gente tinha o costume de expor tudo na rede social dela. Essa minha cunhada passou a informação pro meu irmão, meu irmão não sabia. E aí, ele me perguntou e eu falei pra ele, e tudo mais. Pedi desculpas por não ter falado em primeira mão com ele sobre isso, mas ele foi super compreensível, me apoiou, falou que nada tinha mudado. Isso me trouxe um conforto, porque eu não tenho uma relação agradável com meu pai. Eu moro com meu pai e não tenho uma relação agradável com ele. E eu tive essa preocupação de não saber se o meu irmão ia passar para frente, se ele ia respeitar a minha decisão de não abrir pro meu pai, por exemplo. Mas ele me trouxe conforto e, devagar, com o tempo eu consegui conversar com as demais pessoas da minha família, exceto meu pai. De mim, ele não sabe. Eu nunca falei pra ele, mas eu tenho em mente e eu acho que é óbvio que ele deve saber de alguma forma. Mas ele deve ter, também, as questões dele, de não conversar comigo sobre. Eu acho que quando eu estiver preparada e ele também, a gente vai ter esse momento, essa conversa. Mas, fora isso, eu tive apoio das pessoas da minha família. Lá no meu quintal, eu moro com minha tia e meu tio, e tenho dois primos também. E eu consegui conversar com eles tranquilamente, sabe.


E você, já tinha tido outras namoradas antes ou ela foi a primeira?

Marciele
Tive relações, mas não assumidas. A Hulliane foi a primeira assumida.

Essa praça é um lugar especial pra vocês, né? Vocês podem contar um pouco?


Hulliane
Aqui, era como se fosse a nossa casa mesmo, né? Quando a gente saía do trabalho, que é logo ali embaixo, a gente vinha pra cá. A gente se sentia de fato em casa, porque é uma praça, mas é reservada. E como a gente tava nesse lugar, de se redescobrir, como a Marci trouxe, foi um momento de muito afeto que a gente teve. Essa praça traz muita tranquilidade. A gente poder olhar pra gente mesma, entender os nossos sentimentos e trocar, conversar e tomar decisões. Então, aqui, tem um carinho especial.

Marciele
Fora as lembranças. Às vezes, a gente passa por aqui e acaba relembrando: “pô, lembra aquele dia que a gente viu isso, que aconteceu aquilo?” Realmente, tem um significado diferente. É um lugar especial pra gente.

Hulliane
E a gente fazia tudo por aqui mesmo. Chegou um momento em que a gente tava procurando casa por aqui. “Ah, vamos vir morar por aqui, porque a gente já passa muito tempo aqui.” Tem uma pizzaria ali embaixo, um barzinho também, que a gente ia com os amigos. Aí quando a gente queria um pouco mais de tranquilidade, só nós, a gente vinha para cá. Foi o nosso refúgio, durante alguns anos.

Como vocês acharam essa praça? Andando?

Hulliane
Foi bem isso mesmo. Tem um mercado ali embaixo, um Rede Economia, que às vezes a gente ia.  A gente parava ali no ponto da van pra voltar para casa. Mas teve um dia que a gente tava mais tranquila, a gente veio caminhando. Ali, tinha um churrasquinho que a gente comia. Aí a gente veio desbravando, aqui, o bairro. (risos)

Julia
Nem parece que a gente tá do lado de umas vias super rápidas, de carro.

Karol

Parece que a gente tá em outro lugar, mesmo. 

 
Marciele
Fora a questão, também, dos olhares. Que a gente percebia que era diferente em outros lugares. Teve aquele episódio do metrô, da garotinha, lembra?

Hulliane
Sim.. A gente sofreu homofobia no metrô, por uma criança! Aí eu fiquei assim: “cara!”. A gente tava juntas, demonstrando afeto no metrô. E a criança passou fazendo careta, dando o dedo pra gente. Absurdo.

Marciele
Isso diz muito sobre a criação. O gesto que ela fez foi um gesto de nojo. Eu fiquei sem entender. Ela tava com a mãe do lado. A mãe viu e ficou de boa.

Karol
Ela sabe que se fizer, vai ser presa, aí deixa a criança fazer, né.

Hulliane
A criança tem licença, é só uma criança… né? A gente passou por um caso de homofobia, ali no bar, também. Pra mim, é como se fosse ontem. A gente ia muito com os amigos pra um bar que fica do lado do mercado. Às vezes, eles faziam churrasco. A gente ficava ali só bebendo, comprava os petiscos no mercado, e ficava ali bebendo. Aí teve um senhor, uma vez, que passou e falou: “Teu bar tá muito mal frequentado, né? São esses tipos de pessoas que você recebe no seu bar.” E aí, a nossa resposta foi continuar frequentando para que, se ele estivesse incomodado, ele que passasse a frequentar outros lugares, porque, cada vez mais, nós estaríamos em todos os lugares possíveis, demonstrando nosso afeto. O dono do bar fingiu que não ouviu e ficou meio que por isso. A gente nunca mais encontrou com esse senhor. Foi só esse episódio. De fato, ele deve ter se sentido incomodado, e não foi mais, ficou em casa.

O que é importante pra vocês num relacionamento?

Hulliane
Pra mim, o diálogo. Eu acho que o diálogo é a base de tudo, né? Como eu trouxe, a gente tem muitos pontos em comuns, e outros muito diferentes, na forma de lidar, mesmo. E a nossa relação sempre foi pautada no diálogo, na conversa: “cara, isso não tá legal, vamos ajustar.” E eu acho que é isso que faz a durabilidade da relação. Sem o diálogo não funciona.

Marciele
O diálogo, pra mim, é a base também. Mas eu acho que, por consequência, se tem o diálogo, tem que haver a compreensão do outro. É isso, também, que faz a diferença. A outra precisa precisa saber se colocar no lugar da parceira, do parceiro, pra entender a situação e juntas/juntos conseguirem resolver.

Vocês pensam em morar juntas, em algum momento?

Hulliane
Sim, a gente pensa. A gente já teve algumas tentativas, mas a gente precisou recalcular a rota. Inicialmente, o nosso objetivo era alugar, né? A gente chegou a procurar aqui pelas redondezas, porque embora a gente não trabalhe mais juntas, eu trabalho aqui pertinho, no shopping (Nova América, em Del Castilho). Então, a ideia era alugar. E aí, a gente teve algumas tentativas, fizemos alguns cálculos de finanças e tal, e decidimos:  Por que não comprar? Por que não se organizar melhor, ser mais assertiva e comprar nossa casa, deixar de herança… Aí, por mais que demore mais um tempinho, a ideia é que seja, de fato, assertivo, que seja com os pés no chão. Tem essa possibilidade. Porque desafios, inclusive de distância, de morar separadas, a gente já enfrentou, alguns anos. Então, a gente espera mais um pouquinho, e vai de uma forma mais segura, mais assertiva.

Julia
Vocês são muito bem planejadas.

Karol

Num é?

Hulliane
Galera sapatão emocionada, né? (risos)

Vocês são monogâmicas? 

Marciele

Trancado.


Hulliane
Por Favor! Não tem como.

Julia
Não era nem para ter perguntado! (risos)

Hulliane
E isso nunca foi nem uma pauta, na nossa relação.

Vocês contaram um pouco. Mas como é ser sapatão na convivência com o entorno?


Hulliane
A minha sensação é que meus vizinhos sempre souberam e aí, pra eles, não foi tanta surpresa. A gente não tem tanto contato, embora minha mãe seja quase uma vereadora lá, fala com todo mundo (risos). Eu sou mais reservada. Mas no entorno, pra mim, é super de boa, porque eu trabalho numa empresa que é plural, uma empresa diversa. Sou rodeada de amigos, também, da comunidade. Então, esses episódios em que a gente sofreu preconceito, homofobia na rua… Existiu e existe toda uma rede de apoio pra que a gente se sinta acolhida e segura. Daqui para frente, como eu falo, é só pra frente, mesmo. E eles que lutem pra poder lidar com isso, com o que é dor pra eles. Porque pra gente, a gente tá feliz pra caramba.

Marciele
E no meu caso, também é muito o que a Hulli falou. Eu também trabalho numa empresa diversa. Sempre que eu tenho que dividir, compartilhar alguma situação, como por exemplo, episódios de preconceito, homofobia; eu tenho, também, uma rede de apoio. Então é tudo muito tranquilo.

Hulliane
E com a família, pensando bem, as duas cunhadas ajudaram.

Marciele
Tiveram um papel importante.

Julia
Viva as cunhadas! (risos)

E vocês pensam em casar, ter filhos?

Hulliane
Casar é algo que a gente até conversa. A gente fala: “caraca, casar, né!? Casar no papel? Caramba.” Eu acho que vai dar um trabalhinho. A gente entra em várias discussões sobre isso. Mas morar juntas, sim. Ter filhos, a gente ainda tá dialogando sobre…

Karol
Quem quer ter e quem não quer?

Hulliane
Eu quero ter.

Julia
Mas quando você falou a primeira vez, ela também se entregou que queria! (risos)

Hulliane
Porque assim, ó, vamos lá, vamos contextualizar. A gente já falou sobre adoção. A gente tem esse desejo em comum. Só que quando a gente fala, a gente sempre entra no impasse da idade, porque eu quero uma criança novinha, assim, bem pequenininha, pra acompanhar o desenvolvimento. Marciele já acha que tem que ser de 10 (anos) pra cima…

Karol

Gente, pega dois!

Julia 

Um de cada! 


Hulliane
É, super resolvido. (risos)

Julia
Que seja o primeiro de muitos cinco anos.

KarolDaqui a 10 anos a gente volta aqui, com as crianças, a família toda!

Hulliane
Um filho com 15 anos, outra com 8…

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